Tudo que desaparece existe com perseverança foi criada a partir da interação do artista com o espaço da residência, a casa do Boulevard, sede do Pivô Salvador. Partindo de elementos presentes no espaço — a hera que recobre suas paredes, os galhos de uma árvore centenária abatida, e um piano desafinado —, o artista propõe dar a ver aquilo que persiste diante do que desaparece. Ao se apropriar dos códigos técnicos, materiais e visuais da gravura, promove uma espécie de invasão gráfica que mimetiza o crescimento da hera através de impressões a carbono e grafite que se agarram às paredes com tenacidade, abraçando seus contornos e relevos. A perseverança vem do exercício de experienciar o tempo de desenvolvimento gradativo das impressões e do desenhos como o tempo de crescimento da planta. E da circularidade do carbono, elemento presente no grafite, na madeira dos galhos, no corpo, no piano e no papel de mesmo nome, dotado de pigmento transferível, geralmente por pressão, que intensifica a oposição entre negativo e positivo e, consequentemente, a disparidade entre o interior e exterior do espaço. Tudo isso reforça a própria ruinaria de um passado que teima em persistir, seja política ou socialmente.